We Can Do It!











































































































































"Feminismo é um extremismo vindo de mulheres misândricas que querem comandar o mundo".

Doía no início o lance de sair na rua com roupas mais curtas. Doía no sentido de machucar mesmo, porque por onde quer que você passe mostrando um pouco mais de pele as pessoas vão te encarar, te medir e te avaliar segundo seus "conceitos e padrões de extrema moralidade x prostituta/gostosa/vagabunda/pedaço de carne x gorda/feia/otária/cheia de celulite".


Você se sente como um bicho acoado, com medo de que alguém passe e roube sua bolsa ou tente alguma violência física contra você, visto que a violência verbal/"ocular" já se tornou tão clichê quanto o Especial de Natal do Roberto Carlos.


Mas né, isso tudo já virou piada mesmo, porque a partir do momento que alguém te aborda com um "gostosa, ô lá em casa, delícia" é mais do que sua obrigação engolir em seco e ficar de boca fechada aceitando que aquilo tudo são elogios. 


Recentemente caiu na rede um vídeo que aborda essa questão, no qual um homem entrevista ativistas de um protesto contra o machismo. Enquanto as mulheres falavam que as "cantadas" de rua são sim uma forma de violência, o moço as abordava com perguntas do tipo: "então quer dizer que se um cara te chamar de gostosa você não vai gostar?". 

E quer dizer que se eu te der total e plena liberdade pra controlar a vida das mulheres, incluindo suas tarefas domésticas, seus trabalhos particulares em empresas e seus outros compromissos você não vai gostar?

Jornalismo tendencioso devia ser punido com as mais duras penas criminais, pois já não basta os veículos de mídia que manipulam boa parte das informações que temos, ainda precisamos arcar com mais um troféu de "comprovação da idiotice". Como em todo protesto há gente bem intencionada, bem preparada, com discurso articulado e plenamente ciente do que está fazendo ali e pelo que está protestando, mas sempre há também o pessoal que vai pra fazer tumulto e agregar "quantidade" sem saber pelo que está lutando. Haviam muitas moças mal preparadas e não esclarecidas no manifesto em questão, que foram escolhidas a dedo pra dar entrevista e caíram na "comprovação da idiotice", no veredito de que aquilo não passa de um bando de desocupadas (os) fazendo barulho. "Alvos fáceis".


Mas porque temos que aceitar esse troféu? Quando aconteceram as manifestações em prol da queda das tarifas sobre o transporte público, toda a galera pacífica brigou pra separar quem tinha boas intenções de quem não tinha, bateram tanto nessa tecla nas redes sociais e nos próprios protestos que as mídias não conseguiram mais esconder essa informação e tiveram que esclarecer esse ponto. E com os protestos contra o machismo e homofobia, como fica? Na Marcha das Vadias desse ano aconteceu mais uma vez a "comprovação": em um movimento que é organizado por ativistas competentes e racionais, haviam criaturas que chegaram ao ponto de introduzir figuras religiosas em suas partes íntimas. E como foi que todos acabaram sendo rotulados, mesmo com a galera brigando pra separar os bons dos ruins?


A questão que sempre gira em torno desse assunto, o feminismo, é o confronto contra nossa sociedade patriarcal. Sim, século XXI, era da alta tecnologia e investimentos na ciência. Também era da persistência nos erros e "princípios" ultrapassados e desgastados.


A vagina, após ser tão marginalizada, agora causa medo, causa pavor, a liberdade feminina e a busca por direitos chega ao ponto de amedrontar tando o patriarcado que ainda permanecemos num círculo no qual somos "machos" ao dirigirmos ônibus e trabalharmos em mecânicas, somos prostitutas ao sairmos com os joelhos de fora e somos animais selvagens quando gritamos por igualdade.


Mas não é somente porque se tem um pênis no meio das pernas que você vai estar livre. Homossexuais já foram tão rebaixados e vítimas de violência quanto as mulheres, e nesse mesmo século XXI tecnológico, ainda há o receio de sair na rua e tomar uma lampadada na cabeça por estar de mãos dadas com a pessoa que você ama, com o seu parceiro que tem o mesmo sexo que você.


Nossa hipocrisia é motivo de piada mesmo. Ditamos regras advindas de livros do milênio passado, regras essas que são pontuais, porque mesmo que estes livros digam que homossexualidade é errado e que a escravidão é uma condição humana, vamos só considerar errada a homossexualidade mesmo, porque convém converter a massa em marionetes de mentes ocas pra obter lucro de qualquer gênero (não ignorando o fato de que ainda existe trabalho escravo, mas esse é mais "fácil de abafar").


Outro ponto é a questão da mulher que trabalha com conteúdo sexual. Por muito tempo eu declarei ódio ao funk, não gostava e fim. Não é o tipo de música que eu tenha no meu celular, mas eu aprendi a respeitar essa vertente da música brasileira, visto que eu não tenho o direito de diminuir o outro e dizer que a cultura dele é inferior à minha por fazer música com conteúdo sexual (e também quando rola uma festinha o funk é o que mais agita a galera, sejamos francos). Pessoas que nascem em favelas, em ambientes sem base familiar, sem instrução e sem orientação e que crescem vendo traficantes sendo considerados reis tem a sua própria vivência, sua própria história na bagagem e refletem em suas formas de expressão o que é sua rotina cotidiana. Não acho correta a ostentação dessa cultura, acredito que a identidade brasileira tem muito mais a oferecer do que o conteúdo sexual, porém reprimir quem trabalha com funk não é a solução. Sexo é bom e todo mundo gosta, nenhuma mulher virgem é santa e nenhuma mulher sexualmente ativa é prostituta, as pessoas precisam aprender a falar sobre sexo sem ter medo e deixar esse tabu de lado. Porém é aquela coisa de sempre, a vida não é feita só de sexo, creio que esse tipo de situação ainda lida com as intimidades de alguém e respeitar os limites do próprio corpo é sempre bom. Você tem muito mais a oferecer em qualidade, valores, conhecimento e habilidades do que somente o sexo, valorize isso e mostre ao mundo que você é capaz sim.


Isso tudo já deu faz tempo sabe, chega desse blábláblá sem nexo e sem coesão com argumentação furada e fantasiosa, já deu dessa zona social e já deu dessa repressão. Poxa, quantas vezes precisamos falar e redizer que feminismo não passa de um movimento que preza por igualdade de direitos? "Ah, mas vocês querem ter mais direitos que os outros", não caramba, eu quero buscar o direito dentro do meu direito, porque mesmo depois de ter conseguido brigar pra poder sair às ruas e trabalhar eu ganho menos que um homem fazendo o mesmo trabalho que ele. Meu deus, supremacia feminina porra nenhuma, eu quero poder viver num mundo onde o alistamento militar seja obrigatório pra homens e mulheres, eu quero que os homens e as mulheres paguem o mesmo preço na balada, eu quero que o parceiro de uma mulher que acabou de ter filho e está de licença ganhe um tempo de licença junto com ela, porque arcar com as tarefas de casa e cuidar de um recém nascido não é fácil, eu quero que um casal gay possa adotar uma criança sem medo de sofrer repressões, eu quero que uma moça não seja considerada um ogro só porque ela quer deixar seus pelos naturais em seu corpo e eu não quero ser considerada inferior pelo comprimento do tecido da minha roupa. Todo e qualquer outro "movimento" de ação extrema, agressiva, tendenciosa e não igualitária NÃO É FEMINISMO, mesmo que se rotule sendo.


Mesmo com os problemas em relação ao machismo o que temos que mudar é a nossa mentalidade automaticamente preconceituosa. Ainda que eu tenha citado mulheres e homossexuais, é impossível deixar de listas as atrocidades cometidas contra negros, ateus, deficientes e outros mais. Aceitar a opinião e a vida do outro é bom, indolor, grátis e deixa de machucar muita gente. Eu aprendi, depois de muitos anos, a me desprender de padrões e começar a me sentir feliz do jeito que eu sou: não sou magra, tenho estrias e celulite, mas minha vontade de ir pra frente e ajudar quem ainda se sente mal por estar nessa situação é muito maior do que qualquer padrão retardado.


Ah, e não podemos encerrar sem o clássico "mas você tem que se dar o respeito".


Querido, o respeito já nasceu comigo e o que você tem que fazer é preservá-lo assim.

E o resto que se foda.

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